“O papel da televisão é a ilusão da companhia, o ruído. Eu chamo-lhe a quinta parede e a segunda janela: a janela da ilusão”.
Mumia Abu-Jamal
No Artigo “I spend my days preparing for life, not for death” para o “The Guardian”.
Em 25 de Outubro de 2007
Nessa altura do campeonato creio que nada que se diga a respeito de televisão seja original. Se relevante ou não, é um outro ponto e muito relativo. Não penso que este aqui seja exatamente relevante. Mas entre um atendimento e outro aqui, nessa repartição pública em que trabalho senti a necessidade de dividir uma frustração com quem quer que possa vir a ler essa página de blogspot.
Hoje, dia Cinco de Outubro de 2009, enquanto me arrumava para rumar a meus afazeres, passei em frente à televisão e confesso que me espantei, não com a violência em si, com a gratuidade ou coisa que se nivele a toda essa falta de novidade. Imagino que tenha ocorrido ontem, uma van com nove passageiros capotou em sentido São Paulo-Minas Gerais... Uma equipe da rede Record que estava pela imediação, de prontidão, chegou ao local com câmeras em punho, bem antes mesmo das equipes de resgate.
Incrível, incrível a falta de respeito conotada pela equipe [bem como pela equipe responsável pela edição e todos os restantes], em que todos os passageiros, recém atirados van afora foram filmados, mostrados sem nenhuma censura ou pudor.
Pessoas ensanguentadas, tremulas, recorrendo aos seus aparelhos celulares, assustados.
O sangue frio que corre na veia da trupe de Macedo negou até mesmo aqueles quadriculadinhos de preservação da identidade.
Julgando pelos ângulos e tipos de closes em pessoas desacordados espalhadas pela pista, penso que aquela mesma equipe deve ter dado graças aos céus, pelo ganha-pão que tinham ali em frente de si.
Família, ninguém ali deveria ter. Ou, se tivessem, isso não importava à equipe.
Só uma impressão, ou de repente caiu em esquecimento aquela propagando do “você acredita em Deus? – Então você acredita em milagres...” (e a florzinha desabrocha, as nuvens que se movimentam num uníssono sobre montanhas...) Mas agora... Isso. O desrespeito incondicional faminto por audiência – audiência que por fim, teve!
A imagem de serenidade substituída pela de desastre, conforme uma das duas venha a vender no momento exato...
Acho que a falta de respeito, por parte do que se apanha na tevê, também está bem representado naquele “CQC”. Começaram por aqui criando algum status com a coisa toda do embate moral à Brasília, e logo, bem logo, estavam numa posição extremamente “confortável” como, por exemplo, em um “Momento Top Five” em que Renato Aragão ao deixar o estúdio do programa de Ana Maria Braga acerta com a cabeça numa vidraça (*) e então um dos apresentadores solta a pérola: “... e eu não sei como a vidraça aguentou, porque o Didi tem cabeça de cearense...” (a ênfase é minha). Para mim, uma ultima gota. Nem por curiosidade mais, não parei pra ver nada mais por ali. Já estava entristecido com a atitude da maior parte das pessoas no caso do twitter de Danilo Gentili - confesso que principalmente nesses segmentos de tendência mais subversiva ou, se preferir assim, “underground”... Passamos tanto tempo combatendo a mídia em nossas músicas, nossos fanzines, nossos eventos e agora... Isso. Não temos a coragem de apontar a mira de nosso discurso contra algo pelo qual temos alguma simpatia.
Não mais mordemos a mão que alimenta...
Tudo isso não significa que não assista mais em nenhum momento à televisão, de forma alguma. Imagino ser necessário conhecer, saber do que se enfrenta. Mas o CQC que se dane.
O título deste texto é uma citação a um título dos britânicos do Napalm Death. Sei que é bem óbvio esse negócio de citar letras de grandes bandas, sei. A tradução da deles é “O Público recebe (o que o público não quer)”. Mas neste aportuguesamento do título a alteração é necessária. Se temos uma mídia estúpida como em poucos cantos, se temos governos que vão de ruim a pior, tudo isso é a medida exata do povo. E dói constatar isso.
Mas as grandes tevês só mostram o que o povo quer ver, assim como o povo tem o governo que lhe agrada. Se não agradasse, sairíamos pelas ruas, faríamos as exigências que acordamos em conselho prévio e auto-organizado, e se não atendidas, gritaríamos mais e mais alto. E se fosse necessário até destruiríamos delegacias e centros de transmissão da Globo, Record e semelhantes; tombaríamos carros de ricos e os atearíamos fogo, temeríamos à miséria mais do que à morte e até morreríamos tentando derrubar um governo...
Quanto à televisão o apertar de um botão já resolve muita coisa.
(*) Em que ponto nos tornamos tão tolos que passamos a achar “entretenimentos” do tipo “Vídeo Cassetadas” e “Câmeras Escondidas” engraçados???
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